O Burro que levava relíquias.
Um burro, carregando a estátua de um santo e outras relíquias, caminhava pelas ruas da cidade. E por onde ele passava as pessoas entoavam hinos e queimavam incensos. Paravam para vê-lo e fixavam em sua direção olhares de admiração. Alguns até se ajoelhavam.
Imaginando que todas as honrarias eram para ele, o burro, cheio de orgulho, marchava soberanamente diante do povo. E até fazia paradas estratégicas quando percebia que a multidão exultava.
Alguém que por ali passava, observando a pose do animal, adivinha o que passa na cabeça e diz:
– Não sejas tolo, ó burro insano! Deixa de lado essa presunção! És pobre da cabeça! Não vês que as homenagens e as preces dos suplicantes são para o santo que carregas, e não para ti? Quantos burros se imaginam adorados pelos homens!
Quantos magistrados que nada sabem são aplaudidos pela imponência da toga!
Hammed
Livro: La Fontaine e o Comportamento Humano.
Francisco do Espírito Santo Neto.
* toga ( vestimenta de magistrado; beca)