A Raposa e a Cegonha.
A comadre raposa apesar de mesquinha, tinha lá seus momentos de delicadeza.
Num dos tais ,convidou sua vizinha cegonha a partilhar da sua mesa.
O banquete foi pequeno e não muito refinado, pois a raposa vivia de maneira econômica. Um caldo ralo servido num prato raso foi oferecido à cegonha, cujo bico, muito duro e comprido, cada vez que tentava tomar a sopa, batia no fundo do prato, e ela nada conseguia beber. A raposa, esperta, aproveitou-se disso e lambeu a sopa toda. Para se vingar, a cegonha convidou a raposa para jantar.
Na hora marcada, chegou à casa da anfitriã. Está, com caprichoso afã, pedindo desculpas pelo transtorno, solicitou ajuda para tirar do forno a carne, cujo cheiro enchia o ar.
A Raposa, gulosa, espiou o cozido:
era carne moído – e a fome a apertar! Sentou-se depressa à mesa, esperando a comida chegar.
Nesse momento, a cegonha entrou na sala e colocou sobre a mesa uma vasilha de gargalo estreito e muito comprido. Lá dentro, estava a carne macia e cheirosa que seria o jantar.
Vocês já perceberam o que aconteceu? A cegonha,com seu bico fino e comprido, conseguiu comer toda a carne, enquanto que a raposa tentava enfiar lá dentro focinho, sem sucesso.
Pobre raposa! Quis dar uma de esperta e só o que conseguiu foi levar de volta sua barriga, roncando de tão vazia. Voltou em jejum para casa, envergonhada, com o rabo no meio das pernas e as orelhas baixas.
La Fontaine diz ao final desta fábula:
Embusteiros, é para vocês que eu escrevo; esperem sempre pelo troco. Quem planta, colhe.
Hammed.
Livro: La Fontaine e o Comportamento Humano.
Francisco do Espírito Santo Neto