Súplica do Corpo.

by Fátima Regina Saldanha

Súplica do Corpo.

Amigo,

ajude-me a ajudá-lo.

Sou o indócil jumentinho (*) que o conduz.

É verdade que não viveria sem você; no entanto, convém você lembrar que não cresceria sem mim.

Reconheço ser todo construído de impulsos a lhe vitalizar as lembranças adormecidas na mente.

Discipline-me.

Tenho fome e sinto frio, experimento cansaço e me tortura a sede. Ensine-me o equilíbrio, corrigindo-me a insatisfação.

Necessito de asseio para viver. Não me relegue ao descaso.

Minha submissão ou rebeldia dependem da sua condução.

Não lhe poderei servir a contento se me não ensinar a docilidade mediante o exercício da frugalidade

Recorde-me sempre que devo zelar-me para viver e não viver para cuidar-me.

Nascido na umidade, inclino-me sempre, por capricho de origem, para as baixadas pegajosas. Mostre-me o céu, apresente-me o Sol, aponte-me a Natureza gloriosa, vestida de luz.

Organizado por efeito de nobre instinto, favoreço mais facilmente a sua demora na sensação. Respeite-me a organização e eu o ajudarei na ascensão, sutilizando a minha estrutura.

Não me perverta a finalidade.

Nasci para servi-lo; não desejo ser o seu algoz.

Não me algeme ao vício.

Eduque-me na continência da vontade e atenderei prontamente ao seu comando.

Se você me amar sem paixão e me equilibrar sem crueldade, ser-lhe-ei escravo fiel é reconhecido.

E, quando já não o possa ajudar, saberei calar a minha voz, retornando ao pó donde surgi, deixando-o livre como andorinha de luz na perene Primavera do Paraíso.

Amigo, enobreça-me para que eu o possa salvar. Sou o seu corpo, obediente e submisso, necessitado de proteção.

(*) expressão usada por Francisco de Assis

Divaldo P. Franco

Ementário Espírita

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