O Carvalho e o caniço.
Um carvalho de bom coração porém superficial em seus julgamentos, uma vez que acreditava na superioridade da aparência e desconhecia os valores verdadeiros ocultos na essência, olhando a flexibilidade do caniço e dele se compadecendo assim falou:
– A natureza foi injusta com você. Frágil como é, um passarinho é uma carga pesada para suas forças. E o mais fraco dos ventos o abriga a inclinar-se e vergar a fronte. Ainda se tivesse nascido à sombra de minha ramagem e fosse mais alto, eu poderia servir de escudo para você e protegê-lo das tempestades que o ameaçam. Devo acrescentar que o admiro pela maneira como aceita, sem reclamar a sua pequenez e a sua debilidade.
O caniço agradeceu a compaixão e a bondade do carvalho e replicou: Não se preocupe com a minha suposta fragilidade. Você se engana com ela. Por trás desta aparência delicada existe, em essência, uma força que me faz ser vigoroso e auto-suficiente. Eu sou flexível. Eu me curvo, se preciso for, mas não quebro. Na verdade, os ventos são mais perigosos para você do que para mim.
Mal terminou de proferir essas palavras, no final do horizonte forma-se um vendaval que, furioso e implacável, fustiga tudo que lhe aparece pela frente. E o carvalho e o caniço são alvos de seus açoites.
A árvore enfrenta o vento forte e tenta a todo custo manter-se em pé; a cana dobra, inclina a fronte.
A árvore enfrenta o vento forte e tenta a todo custo manter-se em pé; a cana dobra, inclina a fronte .
O forte que se julgava alto como as montanhas do Cáucaso e capaz de suportar os violentos temporais, não resiste. E o vento fica mais violento e arranca aquele cuja cabeça era vizinha do céu e cujos pés tocavam o império dos mortos.
Hammed
Livro: La Fontaine e o Comportamento Humano.
Francisco do Espírito Santo Neto